Notas do Editor












Apresentação

O livro que aqui se apresenta é o resultado da compilação de um conjunto de documentos sobre a Crise Académica de 1969.
Pretende ser uma homenagem a todos quantos nos últimos cinquenta anos se envolveram no movimento estudantil, nas suas mais diversas actividades e estruturas, com ênfase e destaque para todos os que foram protagonistas em 1969.
Entre tais protagonistas são evidentemente de realçar os dirigentes da Associação Académica de Coimbra, estrutura já com algumas décadas de existência e que ao longo da sua rica história muitas vezes tem sido um farol de liberdade e uma referência para o Movimento Estudantil. Dedico ao Alberto Martins uma palavra especial, não só pela sua participação neste processo, mas igualmente pelo contributo que deu para a execução deste trabalho, quer com os materiais que disponibilizou quer com o seu conselho e conhecimento.
Na pessoa da Fernanda Bernarda, destaco todas as mulheres - metade do céu - que, com o seu contributo, permitiram que a luta de 1969 alcançasse o que nenhuma outra tinha alcançado. No caso em concreto da Fernanda Bernarda, o seu papel foi insubstituível na medida em que, para além de ter tido uma relevante intervenção em todos os acontecimentos, foi quem se revelou capaz de sustentar muitas das situações face às quais a restante direcção do movimento ficou fragilizada em virtude da repressão. Durante a guerra colonial as mulheres ainda não faziam parte da “tropa”, e nessa circunstância não podiam ser incorporadas compulsivamente, o que lhes permitia alguma margem de manobra.
É igualmente devida uma mensagem de agradecimento às Repúblicas e aos Repúblicos, que nesses anos foram base dessas movimentações e que, desde aí, muitas vezes contra ventos e marés, têm sabido no essencial manter vivo o seu espírito. Entre elas tenho de destacar a Real República dos Corsários das Ilhas, que ao longo destes anos muitas vezes me serviu de porto de abrigo. É para mim um orgulho pertencer à sua tripulação. Uma mensagem de especial afecto é igualmente devida à República da Rosa de Luxemburgo e às Marias do Loureiro.
Foi nas Repúblicas que germinou e floresceu o ambiente anti Comissões Administrativas, e foi das Repúblicas que saiu a lista que em 1969 ganhou as eleições para a Associação Académica de Coimbra.
A documentação que aqui é compilada é parte de um conjunto mais vasto de documentos sobre o movimento estudantil, que por sua vez pertence a um acervo documental de organizações políticas – aqui no sentido mais amplo.
Esta documentação tem vindo a ser recolhida e organizada ao longo dos anos, tarefa que teve o contributo de inúmeras pessoas, que em diferentes circunstâncias têm oferecido ou disponibilizado material, bem como contribuído das mais diversas formas para este fim. Não posso aqui deixar de referir com especial amizade e camaradagem o António e o Pedro – os Alves, com particular referência ao seu contributo para a preservação da memória. Não sendo possível referir o nome de todos, aqui fica o meu agradecimento aos amigos que têm acompanhado este projecto e de muitas maneiras contribuído para ele. Ao Luís Marques, caloiro em Coimbra em 1969, que ao longo da sua formação acompanhou alguns dos momentos mais significativos das movimentações estudantis, com uma mania igual à minha de ir apanhando e semeando papeis por que ia passando, pela oferta do seu precioso espólio, assim como o relato de algumas peripécias que felizmente temos o prazer de continuar a partilhar. Ao Orlando Claro e ao Bruno Mendes em que a parte mais importante do agradecimento não é o apoio técnico e logístico que de muitas formas me tem fornecido, mas a capacidade de serem meus amigos e fazerem coisas que por vezes nem eu consigo – aturar-me. À Ana Margarida Fernandes, entre outras coisas pela descoberta de um importante espólio documental que fez o favor de oferecer. Ao José Manuel Lopes Cordeiro, pela disponibilidade em rever este texto de apresentação. Aproveito igualmente para agradecer à minha família todo o apoio que me tem fornecido, o que me permite continuar a efectuar o trabalho que venho desenvolvendo. Ao meu tio Victor Freitas pelo apoio logístico que prestou na recolha da documentação.
Os documentos do “Processo” aqui apresentados resultam em parte da doação de um significativo acervo de documentação relacionada com a actividade estudantil em Coimbra, centrada nos últimos anos do regime fascista. Vieram-se juntar a um outro conjunto proveniente da digitalização dos documentos de duas outras repúblicas – os “Corsários” e a extinta “5 de Outubro” – assim como a outros de diferentes fontes.
Este trabalho teve assim como ponto de partida alguns desses documentos, que permitem, por um lado, relembrar e, por outro vislumbrar o que foram esses dias e a intervenção que milhares de estudantes então tiveram.
A peça fundamental que está na origem deste livro é o “Inquérito” levado a efeito por determinação do então Ministro da Educação Nacional (MEN), José Hermano Saraiva e que até hoje não tinha ainda sido integralmente publicado.
É acompanhado por uma grande quantidade de materiais da época, com os quais se pretende dar a conhecer, ou a relembrar, a luta e o esforço dos intervenientes, e informar, não só os estudantes mas também a população em geral, do que nesses dias se passou e, dessa forma, ultrapassar o bloqueio que a repressão e a censura então impunham.
A publicação deste "Processo" não vai revelar nenhuma realidade escondida, nem nenhuma situação que altere profundamente a visão que já existe, mas, estou certo, contribuir para um melhor conhecimento de alguns episódios e dos seus protagonistas.
A documentação aqui reproduzida é composta no essencial por três partes.
A primeira parte é constituída pelas peças processuais do “Inquérito”, mandado instaurar pelo então Ministro da Educação Nacional, e que resultou em processos disciplinares levantados a quarenta estudantes. 
Tendo por base os acontecimentos ocorridos até 6 de Maio, as fases de “Acusação” e de “Defesa” vão prolongar-se ainda durante mais alguns meses. 
Do "Processo" fazem parte:
- O Inquérito: é constituído por dois volumes, nos quais são prestados depoimentos por diferentes intervenientes, nomeadamente, o Reitor, Vice-Reitor, Professores, agentes da PIDE, assim como descrito o conjunto de diligências efectuadas. Nele prestam igualmente depoimento os oito estudantes que foram suspensos preventivamente a 22 de Abril.
- A Acusação: peça em que são fundamentadas as acusações a quarenta estudantes, em processo disciplinar mandado instaurar pelo M.E.N., e executada pelo instrutor Manuel António Agra Rocha em 24 de Junho de 1969.
- A Defesa: peça assumida por um colectivo de juristas representados por António Alves Nunes, Vital Moreira, Aníbal de Almeida e Mário Araújo Torres, à época professores da Faculdade de Direito de Coimbra, e na qual é feita a defesa colectiva dos arguidos. A segunda parte da defesa, referente a cada um deles, foi efectuada por advogados constituídos individualmente. Esta última parte não é aqui reproduzida, por serem diversas as defesas e diversas as estratégias individuais e não ter sido possível o acesso a todos esses documentos. No seu conjunto um relato, feito a partir de diversas perspectivas, do que então se passou e da argumentação utilizada para a defesa das diferentes partes em confronto.
Na transcrição dos documentos processuais, optou-se por manter a numeração das páginas (folhas) do “Processo”, pois são essenciais para a orientação quer da “Acusação” quer da “Defesa”. A partição das páginas é igualmente mantida como no original, uma vez que lhe são feitas inúmeras referências.
O "Processo" permite uma visão muito completa dos acontecimentos. Não pode, contudo, ser encarados como “a verdade”, do que então se passou. Quer pelos diferentes papéis e pontos de vista dos interlocutores, quer porque as suas declarações e os procedimentos estão sujeitos às contingências próprias de um inquérito, em que os diferentes intervenientes assumem no seu relato dos acontecimentos, estratégias diferenciadas, quer colectiva quer individualmente, exprimindo versões que ora melhor servem os objectivos de defesa ora da acusação. Acresce que todos eles estão sujeitos às circunstâncias que a época propiciava, em pleno regime fascista e durante uma violenta vaga repressiva. Este documento é igualmente um bom exemplo do tipo de tramitação que era utilizado durante esses anos, em que a rapidez de execução pouco ou nada tinha a ver com a dos dias de hoje.
A segunda parte deste livro corresponde aos materiais - sobretudo tarjetas e comunicados -, em que são divulgadas as posições tomadas por diferentes órgãos representativos da Academia de Coimbra; Assembleias Magnas, Direcção da AAC, Juntas de Delegados, entre outros. Estes documentos têm início no dia 16 de Abril e prolongam-se até ao final de 1969.
São materiais que requeriam na sua produção e distribuição um conjunto de processos de alguma complexidade, de métodos e técnicas que são hoje em alguns casos exemplos de arqueologia em diversos domínios.
O processo de produção de um panfleto, começava por uma discussão do conteúdo e do objectivo do mesmo, seguido da produção de um texto, ele próprio sujeito a discussão em diversos componentes. A fase de impressão era constituída pela passagem para um stencil numa máquina de escrever, sendo-lhe posteriormente acrescentado por intermédio de um estilete alguns símbolos ou desenhos, assim como os títulos ou outros elementos. Em seguida esse stencil era colocado num mimeógrafo, mais conhecido por policopiador, a partir do qual eram impressos os respectivos comunicados. Todo este processo era sujeito a inúmeros erros e problemas técnicos do mais variado índole. Acrescentemos as dificuldades em obter papel e tintas, assim como o próprio local em que esta operação era efectuada, uma vez que muitas vezes tinha de ser feita fora do alcance das forças de repressão. O processo de distribuição era igualmente sujeito a outros riscos, uma vez que tal dava, por vezes, lugar a diversas formas de repressão. Um aspecto particular deste tipo de documentos eram as chamadas targetas. Produzidas do mesmo modo, tinham normalmente uma mensagem simples – convocar uma reunião, dar uma pequena informação, etc. -, e eram impressas em maior quantidade, dado que uma folha de papel dava para várias. Um bom exemplo é o da targeta em que é anunciada a prisão do Presidente da AAC. Se tivéssemos de encontrar um paralelo com os nossos dias, seria o equivalente à divulgação de uma mensagem nas redes sociais. A utilização de papel de diferentes cores, era igualmente um método utilizado como forma de diferenciação.
Na selecção destes documentos partiu-se das referências constantes no “Processo”, mas igualmente de alguma das obras consultadas, nomeadamente do livro de Celso Cruzeiro (Coimbra, 1969 – A Crise Académica, O Debate das Ideias e a Prática, Ontem e Hoje, Edições Afrontamento), o livro de Miguel Cardina (A Tradição da Contestação, Edições Angelos Novus), e o livro de Rui Namorado (Abril antes de Abril. A crise universitária de Coimbra de 1969, Edições Lápis da Memória), que serviram, entre outros objectivos, para ajudar a fazer a selecção dos panfletos aqui apresentados. Desde já os meus agradecimentos aos autores, pelo seu trabalho, no caso do Celso Cruzeiro extensivo ao seu importante papel durante este período.
Fazem ainda parte deste núcleo documental um conjunto de caricaturas da autoria de Carlos Santarém, João Botelho e Joaquim Pais de Brito. Estas caricaturas foram utilizadas para ilustrar alguns dos panfletos e igualmente como modo de financiar a actividade da Direcção-Geral da AAC. durante esse período.
A terceira parte dos documentos constitutivos deste livro foi retirada de uma exposição de fotografias reunidas pela Secção Fotográfica da AAC e expostas em diversas iniciativas, igualmente com o objectivo de divulgarem a luta dos estudantes. Foi um trabalho foi realizado pela Secção Fotográfica da AAC, e é o resultado de uma recolha feita junto dos seus membros. Contou com a participação de Fernando Marques, Varela Pé Curto e Carlos Ramos.
Já muito foi dito e escrito, por muitas e avalizadas pessoas sobre a crise académica de 1969 e sobre as suas consequências, assim como as enormes repercussões que tiveram na sociedade portuguesa, em particular na Universidade e no Movimento Estudantil.
Com a Crise Académica de 1969 os pequenos sinais de abertura que o regime manifestou – Primavera Marcelista – foram definitivamente desmentidos pelos acontecimentos.
Não é objectivo desta publicação fazer a análise de todos os acontecimentos e diferentes interpretações que dai advieram, nem tão-pouco uma interpretação político-sociológica dos mesmos. Não pretende de igual modo fazer nenhuma análise histórica, sociológica ou cultural destes acontecimentos. 
Para isso existem já outros livros e vasta documentação produzida. Muitos dos intervenientes directos prestaram ao longo dos anos o seu testemunho, e felizmente parece ser um trabalho que não está ainda definitivamente concluído. 
A finalidade desta publicação é proporcionar aos interessados no tema o acesso a uma narrativa produzida na época e aos documentos então produzidos. A opção por editar os documentos em fac-símile teve também o objectivo de dar ao leitor a oportunidade de consultar não só o seu conteúdo, mas igualmente permitir um vislumbre das técnicas e modos de produção da época, assim como do seu grafismo.
Várias estruturas, entre as quais assume particular relevo a Direcção da Associação Académica de Coimbra (AAC), as Juntas de Delegados das diversas Faculdades, o Conselho das Repúblicas e a Comissão Nacional dos Estudantes Portugueses – CNEP, foram intervenientes na primeira linha destes acontecimentos. 
Com a frase proferida a 17 de Abril, por Alberto Martins, Presidente da Associação Académica de Coimbra, durante a inauguração do edifício das Matemáticas da Universidade de Coimbra, “Sua Excelência, Sr. Presidente da República, dá-me licença que use da palavra nesta cerimónia em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra?”, tinha início a fase mais visível da chamada Crise Académica de 1969.
Dos acontecimentos, alguns percursores, apresenta-se seguidamente uma pequena cronologia, necessariamente incompleta, como forma de permitir que os menos familiarizados com a temática fiquem com uma ideia geral dos mesmos.
As associações de estudantes (AAEE) há muito suportavam um condicionamento sistemático, manietadas por uma legislação círcum-escolar opressiva, com o objectivo de obstruir as actividades estudantis e de permitir uma repressão capaz de servir as disposições e conveniências do regime. Qualquer actividade estudantil, sindical ou cultural, no âmbito das AAEE, de comissões específicas eleitas ou de qualquer organismo cultural deparava com uma reacção política hostil e sistemática, apostada em criar dificuldades com o mínimo impacto na opinião pública.
A crescente determinação das AAEE, conduziu em 1962 uma investida por parte do Governo, criando uma crise académica que, partindo de Lisboa, onde teve maior importância, se repercutiu também no Porto e em Coimbra, onde uma lista presidida por Carlos Candal – também ele um Corsário das Ilhas – venceu as eleições para a Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC). À ofensiva governamental os estudantes responderam com diversas formas de luta, como a greve às aulas, silenciada por meio de uma série de castigos disciplinares e de medidas repressivas sobre as AAEE. Esta crise revestiu-se de uma assinalável importância, entre muitas outras razões porque foi a primeira ocorrida desde o início da guerra colonial.
Em sequência, o governo salazarista produziu toda uma legislação círcum-escolar, visando o amordaçar do movimento estudantil, a qual deu origem ao frustrado decreto 40 900. Assim se iniciou uma repressão continuada, com episódios mais ou menos esporádicos, que em 27 de Julho de 1965 levou à destituição da Direcção-Geral da AAC, impondo-lhe a partir de então as Comissões Administrativas, depois de expulsos os seus dirigentes.
Enquanto a Universidade permanecia na sua rotina, os estudantes travavam como podiam a luta contra a política repressiva do Governo. Esta realidade foi  dando origem ao progressivo aprofundamento da consciência crítica dos estudantes, que assim adquiriam uma visão crítica da Universidade e da relação entre a política anti-estudantil e o tipo de sociedade na qual aquela se processava.
Em Agosto de 1968, Salazar “cai da cadeira” e é substituído na Presidência do Conselho de Ministros por Marcelo Caetano, que forma o seu governo a 27 de Setembro.
A 20 de Novembro, o Ministro da Educação Nacional proibiu um representante dos estudantes de usar da palavra durante a Sessão de Abertura das Aulas da Universidade de Lisboa, com o propósito de expor as reivindicações estudantis ao novo Governo. À cerimónia oficial não compareceu nenhum estudante. As Associações Académicas de Lisboa organizaram, ao mesmo tempo, a autêntica Sessão de Abertura, onde, com a presença de mais de quatro mil estudantes e de alguns professores, foram debatidos os problemas da Universidade e do ensino em Portugal.
A 23 de Novembro, a Lista apoiada pelo Conselho das Repúblicas apresentou publicamente a sua candidatura à Direcção-Geral da AAC.
Em 25 de Novembro – dia da Tomada da Bastilha – reuniram-se em Coimbra mais de cinco mil estudantes das três academias e, num encontro nacional de estudantes portugueses, foi aprovada a chamada “Declaração de Coimbra”, documento em que eram reivindicados os “9 Pontos”: 1 - Imediata demissão das Comissões Administrativas e eleições imediatas na Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa e na Associação Académica de Coimbra. 2 - Legalização de todas as Comissões Pró-Associação e criação de condições para elas se constituírem onde ainda as não houver. 3 - Revogação de toda a legislação Anti-Associativa e Anti-Estudantil. 4 - Participação de estudantes democraticamente eleitos na gestão dos serviços criados pelo Governo. 5 - Participação dos estudantes democraticamente eleitos no governo da Universidade. 6 - Intervenção das Associações de Estudantes em todas as questões e instâncias onde se decida da vida e da reforma da Universidade e do ensino em geral. 7 - Legalização de órgãos federativos e lançamento das bases de uma União Nacional dos Estudantes Portugueses. 8 - Amnistia de todos os estudantes expulsos e presos e reintegração na Universidade de todos os professores expulsos. 9 - Direito à livre informação dos estudantes sobre o processo. Estes “9 Pontos” constituirão depois uma das bases das reivindicações estudantis, a apresentar ao novo Presidente do Conselho. Foi então criada a Comissão Nacional dos Estudantes Portugueses. 
Em 8 de Dezembro, a PIDE invadiu as instalações da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (IST), suspendeu os seus corpos gerentes, saqueou o seu património, tendo o Governo encerrado o IST. No dia seguinte, a polícia de choque invadiu a Cidade Universitária.
Em 25 de Janeiro de 1969, são convocadas as eleições para a AAC, que se vêm a realizar a 12 de Fevereiro, e que serão ganhas por esmagadora maioria pela lista apoiada pelo Conselho das Repúblicas e por organismos culturais como o Coro Misto, o Círculo de Iniciativa Teatral da Academia de Coimbra (CITAC), o Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC), o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e a Tuna.
Em 14 de Fevereiro, a Faculdade de Direito de Lisboa é invadida pela P.S.P. e encerrada. A direcção eleita da Associação Académica não é homologada pelo Ministro da Educação Nacional.
Em 27 de Fevereiro, a polícia invade a Universidade do Porto, carregando sobre os estudantes reunidos em Assembleia Plenária.
Em 17 de Março, toma posse a Direcção Geral da AAC.
Em 17 de Abril, depois de recusa das autoridades académicas, é o próprio Presidente da República quem não satisfaz o pedido do Presidente da Associação Académica de Coimbra, no sentido de se fazer ouvir, em nome dos estudantes, na Inauguração do Edifício de Matemáticas da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. Os estudantes de Coimbra protestam e realizam a sua Sessão de Inauguração do Edifício. 
Nessa madrugada, Alberto Martins é preso pela PIDE quando saía da sede da AAC e levado para interrogatório; a PSP irrompeu com os seus cães e à coronhada contra um grupo de quase duas centenas de estudantes que em frente da sede da PIDE aguardavam notícias sobre o Presidente da AAC.
Alberto Martins é libertado ao início da manhã e participa a partir das 11,30 horas nos “Gerais” da Universidade numa Assembleia Magna, convocada de emergência.
Em 22 de Abril, são suspensos 8 estudantes da frequência de todas as actividades relacionadas com a universidade. São eles Alberto Martins, Osvaldo Castro, Fernanda Bernarda, Matos Pereira, Celso Cruzeiro (todos da D.G. A.A.C.); Barros Moura (da C.N.E.P.) e Carlos Batista (Junta de delegados de Ciências). É convoca de emergência uma Assembleia Magna para as 15.30 horas no ginásio da AAC que decreta o Luto Académico com greve às aulas.
O luto académico vai manter-se até 6 de Maio. Durante este período as aulas são boicotadas e substituídas por diversas actividades como assembleias permanentes, debates e plenários assim como actividades culturais de organismos como o CITAC, Coro Misto, GEFAC, TEUC e Tuna.
As principais Secções Desportivas da AAC aderem ao protesto e passam a guardar um minuto de silêncio antes das provas e a equipar de luto.
Em 23 de Abril, a PIDE irrompe durante a madrugada em casa de Ricarde Salvat, que com a mulher e a filha são expulsos para Espanha. A peça de teatro “Castelao e a sua época”, do grupo de teatro CITAC, que tinha apresentação marcada para esta data, é impedida pela comissão de censura. Na mesma altura o encenador Luís de Lima é igualmente expulso do país. A peça do TEUC “A Ilha dos Escravos” vem igualmente a ser proibida. O campo cultural vai dar um importante contributo na contestação.
Em 29 de Abril, por ofício do Ministério da Educação Nacional, é mandado instaurar o “Inquérito” aos acontecimentos. Em Assembleia Magna é decidida a continuação do luto académico.
Em 30 de Abril, o Ministro da Educação fala ao país, acusando os estudantes, entre outras coisas, de insulto ao chefe de Estado.
A 1 de Maio, uma Assembleia Magna realizada no ginásio da AAC, decide a continuidade do luto académico.
Nesse mesmo dia o Ministro da Educação Nacional determina o encerramento das Faculdades de Direito, Letras, Medicina e Farmácia da Universidade de Lisboa. A Cidade Universitária é ocupada pela G.N.R..
No dia 6 de Maio, são ordenados o encerramento da Universidade de Coimbra e a cessação de todas as actividades escolares até aos exames, que mantêm o calendário agendado.
Em 7 de Maio, a Comissão de Grelados determina a anulação da Queima das Fitas, com todas as consequências que dai advém para a Universidade e para a cidade de Coimbra.
Em 9 de Maio, é decidida em Assembleia Magna a continuação do luto académico durante os exames. 
Em 14 de Maio, é mandado instaurar pelo MEN um processo disciplinar contra 40 estudantes.
No dia 28 de Maio, cinco mil estudantes de Coimbra, reunidos em Assembleia Magna, decretam a abstenção a exames como forma de prosseguir o luto académico enquanto não forem atendidas as suas reivindicações: levantamento das suspensões, dos processos e das faltas relativas ao período de luto académico.
Durante todo este mês e no seguinte realizam-se diariamente assembleias para acompanhar o evoluir da situação. Promovem-se igualmente as mais diversas actividades culturais, - cinema, teatro, exposições de livros, debates - em que participam não só grupos afins à Universidade mas também personalidades ligados à vida cultural, como Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Ary dos Santos, Vitorino de Almeida, Chico Buarque ou Vinícios de Moraes, entre outros. 
A 2 de Junho, primeiro dia de exames a Universidade é cercada e ocupada por forças policiais: G.N.R., Polícia de Choque e PIDE. 86% dos estudantes não se apresentam a fazer exames. A cavalo, de jeep, de automóvel, as forças policiais passaram a patrulhar Coimbra, como se fossem um exército de ocupação. Quem se assemelhasse a um estudante corria o risco de ser insultado ou preso, como aconteceu a dezenas de jovens.
Caído no ridículo este sistema, pelas sucessivas absolvições que os tribunais iam pronunciando, recorreu o Governo a uma arma mais sofisticada, a Polícia Judiciária, que desencantou no código Penal um tipo de crime inusual e, mediante um malabarismo interpretativo, lá encaixou os factos de que acusava os estudantes. O suposto crime de sedição passou a ser o pretexto para um procedimento ilegal. Os interrogatórios foram conduzidos sem respeito pela lei e de forma desumana.
Em 3 de Junho, os estudantes procuraram o apoio da população e oferecem flores. É a Operação Flor. Partindo da Sede da AAC, é feito um desfile até à Praça da Portagem, onde são lançados balões com comunicados a explicar as posições dos estudantes.
Em 14 de Junho, por despacho do Ministro da Educação Nacional, o inquérito é convertido em processo disciplinar académico.
Em 15 de Junho, a Académica venceu por 1 a 0 o Sporting Clube de Portugal na meia-final da Taça de Portugal. Os estudantes aproveitaram o jogo para se manifestarem.
A 22 de Junho a Académica jogou a final da Taça de Portugal com o Benfica. Uma enorme delegação de estudantes deslocou-se ao Estádio Nacional, em Lisboa, para apoiar a Académica e, ao mesmo tempo, fazer desse jogo uma importante jornada de contestação e de esclarecimento da população. O Presidente da República não assistiu ao jogo e a RTP não efectuou a sua transmissão. No fim o Benfica ganhou por um golo, talvez o mais politicamente incorrecto de toda a carreira de Eusébio.
Em 24 de Junho, por despacho do Ministro da Educação Nacional, são mandados instaurar processos disciplinares a quarenta estudantes.
No dia 11 de Julho, o Governo alterou o texto do n.º 1 do art.° 24 da Lei n.º 2135, passando a depender a concessão de adiamento do serviço militar aos estudantes do seu “comportamento escolar”!
Em 8 de Agosto, são destituídos os Corpos Gerentes e suspensas todas as actividades da AAC. Nesse mesmo mês, parte da direcção da AAC e outros estudantes são presos pela polícia judiciária e passam grande parte do mês encarcerados. 
Em 25 de Setembro, quando os estudantes se propunham reunir em Magna no Jardim da AAC, esse direito foi-lhes negado pelas autoridades universitárias, auxiliadas pela PSP. Igual procedimento foi adoptado no Pátio das Escolas e no Campo de Santa Cruz. Perante a manifestação de protesto levada a cabo pelos estudantes, retorquiu a PSP com brutalidade, extensiva a toda a população que encontrava em locais como a Praça da República.
Em 12 Outubro, o Governo utilizou a incorporação no Exército como castigo, convocando 49 estudantes da Universidade de Coimbra. Daqui para a frente, o Governo utilizará o cumprimento do serviço militar obrigatório como sanção para os estudantes. 
A 26 Outubro realizaram-se as eleições para a Assembleia Nacional, “ganhas” por unanimidade pela União Nacional.
A 14 Janeiro 1970, Veiga Simão substituiu Hermano Saraiva como Ministro da Educação, implementando uma política de “desanuviamento” na Universidade, que passou pela amnistia das diferentes medidas punitivas que tinham sido impostas a alguns dos estudantes e pela disponibilidade para “discutir” uma reforma que viria a ficar com o seu nome.
Em 12 de Fevereiro, tomou posse como Reitor da Universidade de Coimbra o Professor Gouveia Monteiro, que se declarou «não um delegado do governo junto da Universidade, mas um representante da Universidade junto do Governo», defendendo a reintegração dos estudantes afastados.
Em 11 de Abril, foi concedida uma audiência com o Presidente da República a uma delegação da Universidade de Coimbra, constituída pelo Reitor, por um Catedrático e um Assistente de cada Faculdade - os mais antigos -, assim como os oito estudantes que tinham sido suspensos em 22 de Abril de 1969. Este foi um acontecimento que causou alguma polémica e diferentes interpretações. Embora baseada numa resolução tomada na Assembleia Magna de 24 de Abril de 1969, e novamente reiterada em Magna realizada no Gil Vicente em 3 de Abril de 1970, foi interpretado como um pedido de desculpa pelos acontecimentos ocorridos a 17 de Abril.
Nos dias seguintes os estudantes incorporados compulsivamente no exército começaram a regressar a Coimbra.
Em 27 de Abril, Veiga Simão anunciou que, por despacho de 14 de Abril, tinham sido amnistiados os estudantes dos processos disciplinares e judiciais que lhes tinham sido movidos. Desta forma, o Governo esperava ter ultrapassado a crise. Porém tal não veio a acontecer.
Esta é a última contestação estudantil em que a questão da guerra colonial não  terá um papel central. Daí para a frente a contestação do movimento estudantil vai passar a ter novos motivos e componentes.
Na Crise de 1969, a única corrente partidária estruturada era a Organização Estudantil de Coimbra do Partido Comunista Português. A corrente maioritária durante todo o processo vai ser a chamada “Corrente C.R.” a que se junta ainda os “Contestas” que não tem na altura uma conotação política que possa ser enquadrada nas organizações que vieram posteriormente a surgir. No caso dos “Contestas”, uma parte dos elementos vai dar origem às primeiras organizações de cariz trotskista, enquanto na “Corrente C.R.”, maioritariamente de esquerda, estão ainda “não definidos”, mas com múltiplas influências de acontecimentos recentes, como o Maio de 1968, a Guerra do Vietname e a invasão da Checoslováquia, assim como dos ventos da Revolução Cultural na China, a que se junta a questão cada vez mais pertinente da Guerra Colonial.
Deste caldo cultural e geracional, diferentes correntes políticas irão surgir nos anos subsequentes, estando alguns dos seus futuros quadros já presentes nestes acontecimentos.
Na sequência das eleições de Outubro, e sobretudo a partir de 1970, uma série de outras organizações ligadas a correntes de esquerda radical, tais como organizações de raiz marxista-leninista, vão formar-se, passando a ter crescente influência no desenrolar dos acontecimentos. A crescente politização do meio estudantil vai levar uma contestação mais alargada. À luta contra a chamada “Reforma Veiga Simão” e às reivindicações de carácter sindical, veio-se juntar a luta contra a guerra colonial, a repressão e a militarização do ensino, e a favor da amnistia e da libertação dos estudantes presos, assim como a exigência de derrube do próprio Regime.
A 30 de Abril de 1970 concorreu à Direcção-Geral da A.A,C. uma lista única - “Lista do Movimento Estudantil”, movimento este saído de um processo eleitoral constituído a partir das Juntas das Faculdades, em que os estudantes eram votados individualmente e o programa aprovado em Magna. Embora eleita, esta direcção nunca veio a ser homologado pelas autoridades.
O regime vai continuar com as formas de repressão sobre o Movimento Estudantil. Dezenas de estudantes de diferentes instituições continuam presos nas cadeias da PIDE, então rebaptizada de Direcção-Geral de Segurança - DGS.
A 9 de Maio na sequência de uma actividade promovida por um grupo pró-regime, e perante o protesto de estudantes que se concentraram à porta do Teatro Gil Vicente, a polícia investe à bastonada, a tiro e com gases lacrimogéneos na Praça da República e na Associação Académica, sendo ferido a tiro o estudante Fernando Seiça.
Em 21 de Janeiro de 1971, o Ministro da Educação determinou a “lei de excepção” para as universidades, que permitiu todo o tipo de arbitrariedades contra os estudantes e as suas associações. Processos disciplinares com suspensões e expulsões, prisões pela PIDE e Polícia Judiciária, incorporações forçadas no exército, encerramento das associações, invasão de faculdades e instalações universitárias, por vezes recorrendo à utilização de armas de fogo, passaram a fazer parte do dia a dia.
Neste período surgem conflitos com alguns grupos estudantis em torno da manutenção de determinados símbolos e práticas, da sua conformidade com a declaração de luto académico, assim como com a continuação da praxe e de actividades estudantis como a Queima das Fitas.
O Dux Veteranorum, assume durante estes anos um papel com uma importante componente política; por um lado pela defesa do luto académico e por outro - como durante o ano de 1970 - assumindo funções para as quais não fora eleito, como presidir a assembleias magnas em substituição dos elementos eleitos para o efeito e impedidos de o fazerem.
Tendo a sua origem em Coimbra, a praxe, com o seu conjunto de símbolos, usos e rituais em que se integram o trajar e outras práticas, passa a partir deste processo a ser postas em causa de uma forma muito consistente por uma grande maioria dos estudantes. No ano lectivo 1970/71 a recepção aos “caloiros” é substituída pela “semana de recepção aos novos alunos” e as actividades tradicionais como a Latada e a Queima das Fitas deixam de se realizar.
A Crise de 1969, tendo por um lado tido a capacidade de utilizar as tradições académicas como componente da luta estudantil, vai em simultâneo fazer com que até ao início dos anos 80 todas as actividades deste tipo tenham sido banidas pela maioria dos estudantes, por serem identificadas com a Universidade ou o Ensino (Velho).
Em Coimbra, mas também em Lisboa e Porto, assim como em muitas escolas secundárias locais de Viseu, Évora, Viana do Castelo ou Braga as “tradições académicas” vão desaparecer durante uma década a partir desta altura. Em alguns casos virão a ser “ressuscitadas” e apropriadas posteriormente pelas chamadas Universidades Novas, também elas com origem na Reforma Veiga Simão, como é o caso da Universidade do Minho – a minha Academia – que no início dos anos 90 vai pegar nas extintas festas do Liceu Sá de Miranda – o Enterro da Gata – e reinventá-las, incorporando-as na sua “tradição”. É igualmente de referir o caso das “Nicolinas” – Festas dos Estudantes do Liceu Nacional de Guimarães – a minha escola secundária – que são as únicas festas estudantis que por um lado nunca foram interrompidas e, por outro, continuam a ser organizadas por estudantes do ensino secundário. O cruzamento entre as tradições académicas de Guimarães e as da Academia de Coimbra tem séculos e este não é o local para as abordar.
Em relação às Repúblicas coimbrãs, é de realçar o seu importante papel na manutenção de um modo de viver e de intervenção. Tendo mantido ao longo dos anos um núcleo mais ou menos sólido, embora sofrendo sucessivas baixas, compensadas em parte pelo reconhecimento a outras casas da condição de República. Das Repúblicas saíram ao longo dos anos inúmeras pessoas que se destacaram nas mais variadas áreas de intervenção, algumas depositárias de importantes acervos documentais que não estão a ser devidamente protegidos e que seria importante preservar. O recente despejo da República “O Farol das Ilhas” é mais um exemplo disto. Estas casas pelo seu posicionamento político, nunca estiveram seguras nem protegidas, tendo como sua maior defesa a união, independentemente das suas diferenças,  quando estão em causa direitos essenciais das casas e dos estudantes. Algumas delas estão neste momento novamente em perigo, nomeadamente por não terem sido devidamente protegidas aquando das alterações legislativas sobre a “lei das rendas”.
Não a título de curiosidade mas como nota importante, é de referir que ainda hoje há Repúblicas que mantém o luto académico de 1969, e em consequência são vincadamente antipraxe, - o que implica por exemplo a proibição de entrar trajado nas casas - embora outras tenham uma postura muito diferente.
Voltando à cronologia, a 27 de Novembro de 1970 é eleita em Assembleia Magna uma nova Direcção-Geral, originada num processo de discussão nas faculdades.
Em Fevereiro e Março de 1971, a repressão abate-se mais uma vez sobre a Academia de Coimbra; mais de duas dezenas de estudantes, entre os quais a quase totalidade dos corpos dirigentes da AAC, são presos e enviados para Caxias. Mais uma vez a AAC vai ser entregue a Comissões Administrativas nomeadas pelas autoridades. 
À contestação o regime responde com a militarização do ensino. Por um lado, recorrendo à incorporação nas forças armadas dos estudantes que mais se destacavam na actividade político-associativa. Por outro, ao tomar medidas como a introdução dos “Pides vigilantes” nas faculdades. Os “vigilantes” são institucionalizados por despacho de 27 de Janeiro de 1973 e passam passaram a ser conhecidos entre os estudantes como “Gorilas”. Eram indivíduos provenientes das forças especiais do exército colonial – sobretudo dos comandos – que tinham por missão controlar as movimentações dos estudantes dentro das faculdades. 
No caso do ensino secundário, esta medida de colocação de “vigilantes” também existiu, tendo-se traduzido na colocação do mesmo tipo de indivíduos, muitos deles pouco mais do que analfabetos, com as funções de professores de educação física. Felizmente uma parte dos estudantes de 1969 e dos anos seguintes começou igualmente a chegar ao ensino secundário como professores, tendo tido um importante papel no surgimento e fortalecimento de movimentações estudantis contra o regime neste grau de ensino.
De todos os grupos sociais que durante a última fase do anterior regime se ergueram contra ele, os estudantes foram dos que de uma forma mais consequente e persistente o fizeram.
Oriundos na sua maioria das classes sociais mais privilegiadas, os estudantes vão travar igualmente uma luta contra as suas origens, adoptando em muitos casos a causas do campo contrário.
As incorporações forçadas no exército colonial, a suspensão e expulsão de estudantes, o fecho muitas vezes precedido de assalto policial às AAEE e a repressão sobre as mais diferentes máscaras assumiram por vezes formas de extrema violência. Ocorrências como o metralhar pela polícia de instalações universitárias e prisões selectivas ou em massa de estudantes passaram a ser rotina.
Por outro lado, vai assistir-se a uma progressiva politização e radicalização do movimento estudantil, que partindo da discussão de questões pedagógicas, ou de reivindicações (salas de convívio, ou de cariz associativo), passou para formas de luta mais globais, como a oposição cada vez mais acentuada à guerra colonial. 
No período que vai de 1969 a 1974 o número de prisões vai atingir níveis nunca antes registados, nem mesmo no tempo de Salazar. Contam-se por milhares os estudantes que irão durante este período passar pelas cadeias. Presos individualmente ou às centenas, muitos deles sujeitos à tortura, outros passando à clandestinidade, começam a integrar diferentes organizações políticas.
As Academias de Lisboa, Porto e Coimbra são o centro desta contestação. O assassinato de José António Ribeiro dos Santos, a 12 de Outubro de 1972, por agentes da PIDE durante uma reunião de estudantes no então Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, actual Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, vai fazer com que qualquer tipo de conciliação com o regime se torne impossível.
A partir desta altura, a contestação estudantil estendeu-se progressivamente ao ensino secundário. A constituição de associações ou pró-associações em Lisboa e no Porto e o ramificar da contestação a outros locais, como é o caso de Setúbal, Coimbra, S. João da Madeira, Braga, Viana do Castelo ou Guimarães vem acrescentar complexidade a esta movimentação.
O encerramento do Instituto Superior Técnico em 1973/74, a Crise dos Coros em Abril de 1973 - principalmente no Porto -, são alguns dos momentos que marcaram este crescente clima de contestação.
Na fase final do regime fascista, a situação era de uma quase total perda de controlo governamental sobre as movimentações e actividades do movimento estudantil. 
Em 24 de Abril de 1974, praticamente todo o ensino está em pré-estado de sítio. As greves, manifestações e insubordinações atingem patamares sem paralelo. 
Depois de 1969, e continuamente até ao 25 de Abril de 1974, o movimento estudantil nunca deixou de questionar a política governamental. 
Em Guimarães, cidade de onde sou originário, a primeira manifestação depois do 25 de Abril foi realizada no dia 26 de manhã, e composta quase exclusivamente por estudantes. 
A Associação Académica de Coimbra só é novamente entregue aos estudantes em 27 de Abril de 1974, quando o reitor devolveu as chaves do edifício.
Estes e outros episódios podem ser abordados noutras oportunidades. No trabalho desenvolvido em http://1969revolucaoressaca.blogspot.pt/ muitos deles são relatados na documentação aí disponibilizada.
O autor destas linhas não foi interveniente directo em qualquer destes acontecimentos nem tem nenhuma formação específica em História, pelo que se arrisca a ter cometido erros que por certo outros corrigirão. A minha participação no movimento estudantil e associativo, embora intensa e em múltiplas fases, apenas teve início depois de 1974.
Ao passarem 50 anos sobre a Crise Académica de Coimbra de 1969, e 45 sobre o 25 de Abril de 1974, é com muito gosto que me associo desta forma à comemoração destes aniversários.

Abril de 2019
José Gualberto de Almeida Freitas







Paulo Lopes representante da AEHLP, Gualberto Freitas. Alberto Martins e Paulo Esperança representante da AJA-Norte durante a apresentação do livro "O Processo"


Exposição "1969 - O ano da Crise Académica" na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto

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Convite para a apresentação do livro "O Processo"

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Entrevista na Rádio Universidade de Coimbra - RUC


Diário de Noticias


Rádio Universidade de Coimbra - RUC

Exposição “1969 o ano da Crise Académica” nas Repúblicas dos Corsários e Galifões

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Murais comemorativos dos 50 anos da Crise Académica e 45 anos do 25 de Abril - I Fase

Pinturas Murais executadas para comemorar os 50 anos da Crise Académica de 1969 e os 45 anos do 25 de Abril de 1974

Pintadas nas paredes da República dos Corsários e dos Galifões em Coimbra

Mural da autoria de António Alves com a participação da Real República Corsários das Ilhas e República dos Galifões

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Murais comemorativos dos 50 anos da Crise Académica e 45 anos do 25 de Abril - II Fase

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A Cabra Nº 295 - Associação Académica de Coimbra

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Exposição do CITAC e do TEUC sobre os 50 anos da Crise Académica e os 45 anos do 25 de Abril
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Exposição de Cartazes em Famalicão no 25 de Abril de 2019



Para ver outras fotografias da organização clik  AQUI  


 Divulgação da exposição no jornal online VilaNova.



Apresentação do livro "Peço a Palavra"  de Alberto Martins na Sala "17 de Abril" em 23 de Abril de 2019




















Faz hoje 5 anos que se iniciou o projecto deste Blog.
Nessa altura assumimos o compromisso de todos os dias publicar documentos, saídos há 40 e 45 anos respectivamente. Calculamos na altura que no total seriam publicados 10.000 documentos, entre panfletos, targetas, jornais, autocolantes, cartazes, etc.
Centenas de organizações, das mais conhecidas às mais obscuras, centenas de publicações, clandestinas ou legais foram assim trazidos à luz da Internet. Muitos destes documentos nunca tinham sido publicados e entre eles estão alguns de que se conhecia existência mas não era conhecido nenhum exemplar.
De entre as diversas rubricas que podem aqui ser exploradas é de realçar, a grande quantidade de materiais referentes ao Movimento Estudantil e organizações políticas de estudantes, sinal evidente da importância que este sector teve durante esses anos.
Por outro lado uma série de outros marcadores permitem pesquisas como a localidade ou a data da sua publicação.
Pode-se hoje dizer que os objectivos iniciais foram claramente alcançados.
Com efeito todos os dias, sem nenhuma falha, foram publicados documentos que neste momento totalizam mais de 11.000.
A maioria destes documentos foi transcrito total ou parcialmente para texto. Este trabalho permite que possam ser consultados por utilizadores de diferentes línguas, utilizando os dicionários automáticos que esta ferramenta possui. Foi uma enorme vantagem. Hoje mais de metade de quem consulta este trabalho não tem o português por língua materna.
É com algum orgulho que podemos afirmar que nenhuma pessoa ou organização, oficial ou particular que se dedique a este tipo de trabalho se aproxima do que aqui está feito.
Acresce que todos os documentos estão completamente disponíveis sem qualquer Protecção.
Esta fase do trabalho terminará no próximo dia 25 de Abril, quando será possível ter acesso a uma base documental contínua de 10 anos que começa a 18 de Abril de 1969 e vai até ao 25 de Abril de 1979.
A partir de hoje e até ao 25 de Abril, serão chamados para a primeira página alguns dos documentos publicados no início do trabalho. Não é por acaso que o primeiro foi uma targeta, em que se anunciava que o Presidente da A.A.C. tinha sido preso.
Terminada esta fase e após uma pausa, logo veremos que outros passos serão dados na continuação deste trabalho. Alguns podem desde já ser avançadas. A publicação de documentos do mesmo período histórico irá continuar, ao mesmo tempo que documentos já publicados serão melhorados ou publicados integralmente. O blog irá em breve ser reorganizado para permitir que a pesquisa seja mais facilitada.
Na base de dados existem neste momento pelo menos outros 10.000 que estão em condições de virem a ser publicados.
Durante estes 5 anos muitos outros materiais foram entrando para o arquivo que serve de base a este Blog, juntando-se a muitos outros que já lá se encontravam.
A base de dados tem neste momento aproximadamente 70.000 documentos, digitalizados num conjunto que mais de 300.000 páginas. Como é evidente muitos deles não correspondem ao período que é coberto por este Blog. Muitos outros aguardam tratamento. A seu tempo veremos como será possível fazer a sua divulgação.
Embora eu seja a face mais visível deste projecto, muitas pessoas colaboraram das mais variadas formas para a sua execução. A todos eles um imenso obrigado. Sem o seu contributo nada disto seria possível.
É igualmente importante referir que nem um cêntimo de dinheiro público foi directa ou indirectamente utilizado.
A todas as pessoas que tem consultado, ou venham a utilizar este arquivo, tenho a dizer que é um privilégio poder contribuir para que a memória de um período tão importantes da nossa História possa estar disponível.

18 de Abril de 2019


De maneira a evitar alguma possível confusão, tenho a declarar que não participo nem nunca participei em nenhuma espécie de “rede social”.

17-04-2019


Em homenagem ao Júlio Pomar - 23-05-2018



9 de Maio de 2018





Nos 200 anos do seu nascimento



Targetas distribuídas em algumas manifestações no 1º de Maio de 2018 








A um ano do final deste projecto, pelo menos no que diz respeito aos objectivos que nos propusemos, é altura de fazer um pequeno balanço e apresentar algumas inovações.
Há quatro anos propusemos publicar diariamente documentos que fariam respectivamente 40 e 45 anos no dia em que seriam republicados. Foi igualmente referido que no final deste processo que terminará em 25 de Abril de 2019, seriam disponibilizados cerca de 10000 documentos.
Desde ai foram disponibilizados 9400. No final, o objectivo dos 10000 será muito ultrapassado.
Até hoje este trabalho foi já consultado mais de 150000. A média dos últimos meses ultrapassa as 8000. Não é certamente viral, mas esse também nunca foi o objectivo.
Uma parte significativa das pesquisas deixou de ser o publicado no dia, para passar a ser o de consulta por datas ou temas do material já disponibilizado.
Desde o princípio que há consciência de uma série de fragilidades. Algumas foram sendo ultrapassadas, outras ainda não. Ainda não foi possível fazer passar esta documentação para uma base de dados que permita um outro tipo de pesquisa e de consulta. A seu tempo se verá como o faremos.
Como aspecto positivo podemos afirmar que a partir de hoje e até de aqui a um ano passaremos a incluir em formato Pdf uma parte significativa dos documentos.
A maioria dos jornais ou revistas que até aqui apenas era publicada a 1ª pagina e um artigo passaram a ser publicados integralmente.
O título “O Povo de Guimarães” serviu como ensaio e desde o Nº 001 está já todo neste formato.
Das colecções que estão para traz veremos quais são as possibilidades de aos poucos irem sendo actualizados. Não só neste aspecto mas igualmente na revisão de alguns textos e na correcção e organização das etiquetas.
A actualização das entradas no sector “Organizações e outros”, nomeadamente no disponibilizar novas entradas, assim como uma nova secção em que seja fornecida informação mais detalhada sobre as “Publicações” está há muito em agenda, mas ainda não foi possível concretizar.
Desde o princípio que tem sido feito um esforço de transposição dos documentos para texto que talvez agora possa ser melhor compreendido.
Essa transposição permite duas coisas fundamentais.
A primeira é a entrada nos dicionários do Google e que a partir daqui possam ser lidos em qualquer língua disponível. Em termos de consultas Portugal está em terceiro lugar, e a língua portuguesa representa 60%.
A segunda permitir a pesquisa por palavras. Aqui a base de dados fará toda a diferença em termos de pesquisa. O blogue não tem as ferramentas que o permitem.
Mas 44 anos após a queda do fascismo em Portugal, o caminho continua a fazer-se caminhando.

25 Abril de 2018

Brochura distribuída no dia 21 de Abril de 2018 no almoço de homenagem a Francisco Martins Rodrigues 
Para ver todo o documento clik AQUI





Entrou por doação, vindo de Coimbra, um importante arquivo.
É composto principalmente por um conjunto de documentos entre 1967 e 1975.
Tem cerca de 15 pastas, com muitas centenas de documentos.
Pode dividir-se no essencial em 5 conjuntos.
Algumas dezenas de cartazes, com destaque para os cartazes da CDE de 1969 e 1973, cartazes relativos ao movimento estudantil, e um conjunto referente ao PCP e UEC de antes e do após 25 de Abril de 1974.
Documentos diversos sobretudo sobre o movimento sindical.
Documentos relativos à oposição democrática – CDE, principalmente relacionados com as eleições de 1969 e 1973.
Estes documentos veem complementar, entre outros que tem sido disponibilizados, o arquivo central de Lisboa da CDE/MDP, que ainda aguarda a possibilidade de ser tratados como merece.
Documentos relacionados com o movimento estudantil, com enfoque na crise de 1969 e anos seguintes. Destes fazem parte um conjunto organizados cronologicamente, que se veio integrar no já apreciável conjunto de documentos sobre este tema existentes, permitir também datar muitos outros.
De destacar ainda um exemplar completo do processo disciplinar de 3 Julho de 1969, a 40 estudantes de Coimbra, levantado pelo Ministro da Educação Nacional, e do qual fazem parte 3 volumes; Acusação, Defesa e  Peças do Processo, num total de 126 entre as quais os depoimentos de 79 dos principais intervenientes na crise académica de 1969 em Coimbra.
Documentos do PCP, com particular incidência na Organização Estudantil de Coimbra do PCP, e a partir de 1972 para a sua sucessora UEC.
Este conjunto de imprensa clandestina; Avante!, O Militante, A Terra, O Têxtil para além de diversas brochuras como o “Se fores preso camarada…” (4ª edição de 1963), “O radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista” (1ª edição 1970 - Álvaro Cunhal), entre outros.
Há ainda um importante conjunto de documentos internos, Organização Estudantil de Coimbra do PCP, da UEC e do próprio PCP, correspondência interna entre o C.C. da UEC e o C.C. do PCP, Comissão Delegada da UEC no Estrangeiro e o Executivo da UEC no interior, correspondência com organizações internacionais, relatórios de recrutamento de militantes, informações sobre elementos da PIDE, balancetes das contas da UEC de Setembro de 1972 até ao fim de 73, listas de contactos de militantes, entre outros, assim como diversos manuscritos relativos a diferentes circunstâncias.
Um vasto conjunto de comunicados clandestinos da UEC e do PCP.
Um vasto conjunto de comunicados clandestinos da UEC e do PCP.
A quantidade e diversidade de documentos, assim como a forma como estava organizado, leva a pensar que ele é o registo do que foi uma das mais importantes organizações estudantis do PCP, quer antes quer nos tempos posteriores ao 25 de Abril.
Este arquivo é para este projecto importante por diversos factores. Porque vem completar outras colecções, e vem ajudar a suprir a deficiência existente em relação à imprensa clandestina do PCP. Porque o Partido Comunista Português é aparentemente o único partido com uma política de arquivos coerente, e por isso é raro aparecer um arquivo “de organização”. E por fim porque os documentos permitem um conhecimento mais aprofundado do que era a intervenção do PCP-UEC, numa das principais frentes de luta – movimento estudantil na Universidade de Coimbra – durante este período.
Estes documentos depois de organizados e digitalizados serão progressivamente disponibilizados quer no blog, quer noutras plataformas.
Os meus agradecimentos às pessoas que estiveram envolvidas neste processo pelo excelente contributo que tiveram para ajudar preservar da memória da nossa história recente.

Com amizade, um muito obrigado.
Gualberto Freitas


9 de Outubro de 2017


De onde surgiu este Blogue?

Este Blogue é feito a partir de um fundo documental, de diferentes origens, que tem sido “adquirido”, e trabalhado ao longo dos tempos.
A partir deste fundo documental, composto de aproximadamente 40.000 documentos, distribuídos por 300 organizações, dos quais 25.000 são panfletos, 5.000 publicações, 10.000 cartazes e outros, com um total de aproximadamente 200.000 páginas.
Todos os documentos disponibilizados foram digitalizados a partir de originais.
A parte que é disponibilizada, é uma pequena parte de um arquivo muito mais vasto, que ainda não encontrou condições de ser posto à disposição.
Existem igualmente muitos outros documentos em diferentes fazes de tratamento, dos quais destacaria pela sua importância o arquivo central do MDP/CDE.
Deste Arquivo saíram até agora;

Exposições de materiais, em que para além de outras, destacaria a da Sociedade Martins Sarmento em Abril de 2000, da galeria “Zé dos Bois” em 2009 e na Biblioteca Almeida Garrett em Abril de 2010.






O livro “A guerra dos Cartazes”, editado nos 35 anos do 25 de Abril, de que é possível recolher mais informação em   
lembrabril.blogspot.com/


apresentação do livro "A Guerra dos Cartazes" (25 de Abril de 1974 ...


O porque de um nome?
1969-Revolução-Ressaca
Este Blogue tem por fim disponibilizar documentos do período entre, 17 de Abril de 1969 e 25 de Abril de 1979.
A disponibilização dessa documentação faz-se em dois períodos simultâneos:
De 17 de Abril de 1969 a 24 de Abril de 1974,
e de 25 de Abril de 1974 a 25 de Abril de 1979.
Durante 5 anos, todos os dias são editados, os documentos publicados, 40 e 45 anos atrás.
O objectivo final, é o de disponibilizar de 10 a 15 mil documentos relativos a este período.
Até agora tem sido editados cerca 200 documentos por mês, média que se manterá até ao fim.

1969
A Portugal chegam os ecos do que se passara pelo mundo em 68; a contestação à guerra do Vietname, Woodstock, o Maio de 1968, a invasão da Checoslováquia, a “Primavera marcelista”, a morte do Salazar, entre outros que fazem deste ano, um ano de grande agitação no panorama internacional.
Em 17 de Abril de 1969, tem início em Coimbra uma das maiores crises estudantis que o regime vai sofrer até ao seu fim, em que a repressão que se abate sobre os estudantes, universitários mas também cada vez mais do secundário, vai criar um clima de contestação ao regime e à guerra, que vai aumentar e manter-se até 1974.
Até ao 25 de Abril de 74 uma grande parte da propaganda era clandestina, mas existem também inúmeras publicações legais e semi-legais. Muitas destas publicações são editadas pelas Associações de Estudantes, mas que ao longo do tempo foram usadas de diversas formas.
Esse é um período, em que surgem as mais diversas organizações, cada uma delas publicando panfletos, tarjetas, jornais, etc.; editados das mais variadas formas e nos mais diferentes materiais, e produzidos e distribuídos em condições muitas vezes a roçar o inconcebível.
Durante este período multiplicam-se as greves, manifestações, meetings, prisões, expulsões, incorporações no exército, invasões das escolas e confrontos com a polícia e os “gorilas”, estudantes feridos a tiro e até um assassinato às mãos da Pide, etc.
Os níveis de repressão atingem valores que nem durante o período de governação de Salazar, são usuais.
As dificuldades em editar e distribuir estes documentos, muitos deles com edições extremamente precárias e reduzidas, é uma tarefa hoje quase inimaginável.
 Estas circunstâncias levam a que muitas delas sejam raras, existindo casos um que se sabe da sua existência, mas não se conhece nenhum exemplar.

Revolução
Com o 25 de Abril é a explosão!
A partir daqui, entra-se no processo PREC. Neste período, dá-se por um lado o aparecimento à luz da legalidade das organizações até ai clandestinas e ao mesmo o aparecimento de inúmeras formas de organização popular, desde comissões de moradores e de trabalhadores, até organizações no interior das forças armadas, passando por todo o tipo de iniciativas das mais diversas proveniências.
No pós 25 de Abril, a extrema profusão de materiais, publicados em todo o lado; dos bairros às escolas, passando por todo o tipo de estruturas, faz com que seja difícil ter uma visão de conjunto com alguma nitidez.
Ao mesmo tempo dá-se uma explosão gráfica, que vem dar um novo colorido a estes materiais. Especial referencia para os cartazes, autocolantes, murais, entre outros.

Ressaca
Estes dois períodos, por razões opostas, implicam problemas que acabam por ter um resultado similar. A dificuldade em coleccionar estes documentos.
É destes dois conjuntos que se produz o http://1969revolucaoressaca.blogspot.pt/
O que se pretende não é contar uma versão da história, mas preservar e divulgar os documentos que então foram produzidos, de forma a que se possa ter uma melhor ideia desses tempos.
Este Blogue nunca será viral, pelo facto de que notícias de há 45 anos… não são notícia…
O objectivo é isso sim o de acrescentar, fontes de conhecimento que permitam ter uma ideia mais aproximada, do que foi este período tão apaixonante da história deste país.
O que traz este Blogue de novo?
Documentos, muitos deles inéditos;
A transcrição para texto de uma parte significativa deles, permitindo a utilização de tradutores automáticos, ou a pesquisa por palavras.
Este trabalho não teve, e não tem nenhum apoio institucional de qualquer espécie, é isso sim fruto da necessidade de preservar e divulgar, uma parte das pequenas histórias, que no seu conjunto, acabam por dar a conhecer o que foi o todo desses tempos.


José Gualberto Almeida Freitas



ENTREVISTA NA R.U.C. EM 20 ABRIL DE 2017




ARQUIVO REAL REPÚBLICA CORSÁRIOS DAS ILHAS



Foi possível durante o ano passado, uma equipa, deslocar-se durante vários dias para Coimbra, com o objectivo de proceder à digitalização de documentação, particularmente no que diz respeito ao arquivo José Noronha Bretão da Real República Corsários das Ilhas.
Esta foi a segunda vez que uma missão deste tipo se realizou em Coimbra.
A primeira foi já há alguns anos, e nessa altura foi possível digitalizar uma parte do arquivo dos Corsários e sobretudo digitalizar por completo o arquivo da Real República 5 de Outubro.
Em boa hora foi feito uma vez que a República 5 de Outubro, foi pouco depois destruída por uma aplicação cega da nova “Lei das Rendas”.
O arquivo da 5 de Outubro é composto por alguns milhares de documentos – panfletos e publicações entre outros – que vão de meados dos anos 60 até ao final dos anos 70.
É um arquivo ligado no essencial ao PCP e organizações afins (UEC, UJC, UNEP, etc.) , tendo igualmente uma grande quantidade de documentos ligados ao movimento sindical, com particular incidência no fim de anos 60 e primeira metade dos anos 70.
Para além destes documentos existe, como não poderia deixar de ser, grande quantidade de documentos ligados às movimentações estudantis com particular destaque para Coimbra mas igualmente de Lisboa e Porto.
Os documentos desta República integram já desde o início a publicação deste Blog.
Infelizmente na altura não foram tiradas fotografias que possam dar uma melhor ideia da sua dimensão.
Sobre as Repúblicas, já muito foi dito e escrito e existe ampla bibliografia. Não posso no entanto deixar de referir que estes centros de convívio e cultura estudantil, por onde passaram gerações de estudantes, que vieram ao longo das suas vidas a usufruir das aprendizagens de camaradagem, organização e participação cívica estão com graves problemas de subsistência.
Nelas está uma parte significativa da nossa memória colectiva.
Durante o ano passado foi possível terminar a digitalização do Arquivo dos Corsários.
O arquivo dos Corsários tem algumas particularidades que merecem ser narradas.

Os corsários foram fundados em 15 de Janeiro de 1960 por estudantes vindos dos Açores.

Pelos Corsário passaram algumas dezenas de elementos, muitos dos quais directamente intervenientes nos mais importantes acontecimentos no movimento estudantil desses períodos.

         A título apenas de exemplo pode-se referir, Carlos Manuel Natividade da Costa Candal “Caga Fogo”, que tripulou a “Nau” de 10 Novembro de 1960 a Outubro de 1961, ocupando o cargo de 2º Telegrafista, período durante o qual foi eleito Presidente da Direcção da A.A.C.
O arquivo foi sendo acumulado até ao final dos anos 70, altura em que em circunstâncias que ignoro foi depositado nas águas furtadas. Quando se realizaram obras no início dos anos 90 foi redescoberto.
É constituído por cerca de 40 pastas e outros volumes, com milhares de documentos, que vão do início dos anos 60 até ao final dos anos 70, a que acresce um importante núcleo dos anos 90, nomeadamente sobre a chamada “Guerra das Propinas”.

É um arquivo extremamente rico em documentação relacionada com o movimento estudantil.


Desde 1961 estão documentadas as mais diversas situações e episódios, relacionados com a Academia de Coimbra, desde o relacionamento entre repúblicas a situações de luta estudantil, relacionamento entre academias, movimentações político estudantil, documentos das mais diversas organizações politicas, publicações das mais diversas proveniências, documentação relacionada com a casa. Entre muitos outros itens.

Este fundo documental tem já servido para a consulta de diversos estudiosos, de que se pode salientar, a tese de Doutoramento do Miguel Cardina, sobre o maoismo em Portugal até 25 de Abril de 1975 “Margem de certa Maneira”.

Foi agora possível levar a efeito tal tarefa. O facto de ter sido possível instalar o equipamento necessário para tal na Real República dos Corsários das Ilhas, a onde nos instalamos durante algum tempo, não movimentando para fora da “Nau” a documentação, foi importante para o resultado final. A circunstância de também ter a honra e o prazer – mais prazer que honra – de ser Repúblico e Corsário das Ilhas, também ajudou certamente.
É neste momento possível afirmar, que todo o tratamento digital deste arquivo foi concluída e está a partir deste momento integrado na base de dados de onde este Blog é proveniente.

Estão em cursos outros trabalhados, de que a seu tempo será dada noticia.
Não posso deixar de expressar o meu agradecimento a todos os actuais e antigos Repúblicos e em particularmente aos Corsários,  pelo contributo que deram para que este trabalho tenha sido possível.
28 Novembro 2016

ARQUIVO DO MDP/CDE
Há aproximadamente um ano, tomei conhecimento de que um arquivo, de uma importante organização política, estava numa situação de alguma precariedade e que era importante transferi-lo, de forma a que a sua preservação fosse assegurada.
As fotografias publicadas correspondem à segunda transferência de documentos.
Desde sempre fui um amante da “papelada”. Penso que o preservar da memória, é uma obrigação de todas as gerações, e a nossa tem feito o seu caminho.
Ao longo dos tempos, tenho vindo a constatar que muitas pessoas e organizações, compilaram múltiplos arquivos, com a preocupação de os usarem como instrumento de conhecimento, e memória.
Muitos deles, continuam todos os dias a perder-se, sem que por vezes nos aperceba-mos da sua importância.
Diversas instituições se tem dado ao trabalho de recolher, tratar, preservar, e divulgar, parte desta documentação.
Entre estas são de referir pela sua especial relevância, a “Torre do Tombo”, o “Centro de documentação 25 de Abril”, o “Museu da Resistência”, o “Museu da Imprensa”, uma parte significativa das Universidades, entre outras.
Há igualmente um grupo de pessoas que se tem dedicado a preservar parte deste espólio, recorrendo muitas vezes a conhecimentos pessoais, ou divulgando as possibilidades que existem para a sua conservação.
Muitos tem sido encontrados em condições particularmente difíceis até de acreditar. Casas em demolição, caves ou aguas furtadas, são apenas alguns dos exemplos.
Fica aqui um apelo, a quem pelas mais diversas razões não quiser ou não poder preservar esta documentação, para entrar em contacto, para se poder encontrar formas de preservação e divulgação desta documentação.
Existem também, pessoas e “organizações” que não tem pouca ou nenhuma, confiança nas “instituições”, e como tal não estão dispostos a fornece-la, a não ser em determinas circunstâncias muito específicas.
Tenho tido o privilégio de merecer a confiança, de um número significativo de algumas destas.
Este processo contínua em curso e com boas perceptivas de evolução.
No entanto o que leva a escrever esta nota é a entrada de um espólio da maior importância para a compreensão da história de Portugal dos últimos 50 anos.
Este não é o maior arquivo, nem o mais importante que constituem a nossa base de dados.
É no entanto de extrema importância.

Falamos de uma parte muito significativa do arquivo central das CDE-MDP.

Este Arquivo é composto dezenas de caixas e pastas.
Dele fazem parte, milhares de documentos:
Correspondência, Fichas de militantes, Cartazes, Jornais, Autocolantes, Comunicados, Dossiers, Cassetes de vídeo e som, Bobines de som, Relatórios das mais diversas proveniências, Actas das comissões politicas, Livros com a compilação dos “Diários da Assembleia Constituinte”, etc., etc..
Estes documentos entraram numa fase de análise e organização, que irá no entanto durar bastante tempo, atendendo à quantidade e diversidade do material existente.
Estamos a ter como prioridade, o material a que temporalmente este Blogue se dedica – entre 1969 e 1979 – como forma, de logo que possível, passar a integrar o material que vamos disponibilizando.
É também importante afirmar, que nenhum dos documentos disponibilizados, neste Blogue, até ao momento, veio dos documentos que agora acabaram de entrar.
Pela leitura feita até ao momento, do conjunto da documentação, é possível afirmar que o acervo, contempla períodos bastante anteriores a 1969, e vai até aos anos 90.
Entre eles encontram-se por exemplo, muitos comunicados anteriores ao 25 de Abril, referentes às eleições de 1969 e 1973, o original do documento da legalização do MDP-CDE, junto do tribunal no pós 25 de Abril, actas das reuniões da comissão política nomeadamente, das semanas anteriores ao 25 de Novembro de 1975, uma parte significativa da contabilidade, o “Relatório sobre a invasão de Timor Leste”, entre muitos outros.
Esta documentação foi nos últimos meses, transferida de Lisboa para Guimarães.
A todas as pessoas que participaram na transferência dos documentos, os meus mais sinceros agradecimentos, com especial destaque para os contributos do Frederico, do Orlando e do António.
Contribuíram certamente para preservar uma parte da memória deste País.
Com a ajuda do S. Pedro a operação correu muito bem. De todas as vezes em que o transporte foi feito, fomos sempre abençoados por chuva abundante que chegou de uma das vezes a por em risco uma parte do próprio arquivo. Mas como a ultima parte foi transportada no dia de Stº António, aqui fica o agradecimento aos Santos.
29 de Julho de 2015

Há cerca de um ano arrancou este projecto.
Ultrapassou as 20.000 consultas.
Durante este ano, muitas vezes as coisas estiveram tremidas, mas até agora temos conseguido cumprir os objectivos principais que foram propostos.
Propusemos que durante 5 anos iríamos publicar todos os dias documentos saídos ou publicados em panfletos, jornais, brochuras, tarjetas, cartazes, auto-colantes, etc.
Temos conseguido até agora cumprir o prometido com a publicação durante este ano de 2500 “documentos”.
Durante os próximos anos vamos tentar continuar a fazer o mesmo.
Neste tempo foi igualmente necessário renovar a maior parte do equipamento informático (processo que ainda continua) que permite hoje ter uma maior capacidade de tratamento dos documentos que estamos a disponibilizar.
Temos consciência de que muitos dos documentos que estamos a disponibilizar, são já sobejamente conhecidos, pelas pessoas ou entidades que se interessam por este período da história contemporânea de Portugal.
Contudo a passagem para texto, juntamente com as capacidades de tradução automática, dos documentos veio permitir que, hoje eles estejam acessíveis a um número muito maior de pessoas que se possam interessar por este assunto.
Prova disso é a quantidade de entradas de países de língua não portuguesa, que tem vindo a ganhar uma crescente percentagem.
Temos também consciência que estando a publicar documentos que já eram conhecidos, não foram até agora disponibilizados publicamente.
O exemplo das publicações periódicas, sobretudo depois do 25 de Abril, como o “O Grito do Povo”, “Revolução”, “Luta Popular”, “Unidade Popular”, etc., etc., não têm até agora paralelo com o trabalho que aqui está a ser feito.
A acrescer a isto temos o orgulho de ter tido a possibilidade de ter disponibilizado documentos como o “Que Fazer?” dos Comités Marxistas Leninistas - Mao Tsé Tung (publicado a 10 de Janeiro deste ano – 1970) ou “A CLASSE OPERÁRIA” (publicado a 10 de Abril deste ano) – 1970), que nas últimas obras de referência (**) sobre este assunto, são referidas como “não tendo sido possível consultar qualquer exemplar”.
Ainda não chegou a altura de revelar de onde vieram o conjunto destes documentos – que não é uma fonte, são múltiplas.
Continuam por cumprir “os agradecimentos” a quem de alguma forma contribuiu para a constituição deste arquivo.
Entrou há algum tempo o “Arquivo Central” de uma das maiores e mais importantes organizações políticas do país do pós 1969, que está neste momento a ser trabalhada, e que devido à sua dimensão está numa fase de pré organização.
A seu tempo será dada noticia detalhada desta e de outras situações.
Nos próximos quatro anos vamos ver surgir e morrer movimentos sociais, partidos, organizações de todo o tipo, publicações de toda a ordem, - algumas ressuscitam!??
Vem aí tempos muito interessantes. A partir de finais de 1970 as organizações clandestinas vão multiplicar-se e por em causa a oposição tradicional.
Com elas vão multiplicar-se as publicações. É uma História que vai ser bonito acompanhar
Em 1975, a partir do 11 de Março entramos no PREC.
Até ao 25 de Novembro vem aí o “verão quente”.
Num tempo de desesperança é importante que mesmo com quase tudo perdido se mantenha a esperança de preservar o fundamental – a LIBERDADE
Há sempre alternativas. Toda a Vida é uma improbabilidade e a todo o tempo encontra alternativas.
O que é antinatural é o caminho único.
Quando a “democracia” passa a ser adversária da LIBERDADE algo está muito errado.
Com um forte “O Povo Português Vencerá! “
Desejo-vos um bom dia de lembrança, de quando quase foi possível ser Livre.

(**)José Manuel Lopes Correia “A Imprensa clandestina e do exílio no período 1926-1974” - “Que Fazer?” pag. 96 “A CLASSE OPERÁRIA” pag. 99
José Pacheco Pereira - “Armas de Papel” “Que Fazer?” pag. 476, 477, “A CLASSE OPERÁRIA” pag. 265
25 de Abril de 2015

O falecimento do Professor Mariano Gago, deixa o país ainda mais pobre do que o que já é.
A par de todas as qualidades que tem sido destacadas no seu percurso de vida, o Mariano Gago foi enquanto estudante, um dirigente que participou activamente, na luta contra a deposto regime fascista. Dirigente clandestino de diversas organizações, participou desde estudante até ao seu ocaso, numa corrente de resistência da Academia às forças do obscurantismo e da ignorância.
Infelizmente esta corrente está hoje muito enfraquecida.
Aparentemente hoje a Academia produz “salsichas para exportação”, em vez de produzir cidadãos.
Nunca foi fácil produzir intelectos como o do Mariano Gago, até porque eles serão sempre raros.
A questão é se hoje a Academia permite que eles possam – mesmo contra todas as dificuldades – florescer.
Muitos dos documentos que estamos e iremos divulgar tiveram a participação direta do Professor.
Tive o privilégio, e o prazer de trabalhar com o Professor Mariano Gago, nos anos de 1994/95 no Conselho Nacional de Educação, na Comissão - por si presidida - de Ensino Superior e Investigação Cientifica, a onde de certa forma se começou a delinear o que viria a ser a sua obra enquanto ministro, e que é hoje unanimemente aplaudida.
O Mariano Gago deixou-nos jovem.
À sua família e amigos os meu singelo respeito.
18 de Abril de 2015

Quando passam 6 meses sobre o início deste projecto, continuamos a tentar melhorar o desempenho desta ferramenta com o objectivo de apoiar a divulgação do conhecimento do período histórico em questão.
Foram, até hoje, publicados mais de 1000 documentos e temos recebido um inestimável número de sugestões.
A situação que existia no blogue não era, no entanto, capaz de dar resposta a algumas das situações.
É o caso dos comentários que apenas podiam ser efectuados a um documento em concreto.
No sentido de tentar ultrapassar esta situação, abrimos a partir de hoje uma nova “página” onde passa a ser possível deixar comentários gerais sobre o Blogue.
Ficam igualmente para breve novidades sobre a entrada de novos documentos para o arquivo, de que daremos oportunamente notícia.
Hoje damos igualmente notícia da entrada de um conjunto de cerca de 200 cartazes, oferecidos pelo Pedro Alves do Centro de Estudos Operários Memória-Laboral CEO M-L.

O período abrangido por estes cartazes vai desde anos 40 até à actualidade. Estes materiais serão trabalhados e integrarão o arquivo, depois serão disponibilizados para consulta o mais rapidamente possível.

Não é a primeira vez que os membros do CEO M-L têm oferecido, trocado ou cedido documentos para a sua digitalização.
Mantenho, há anos, uma relação de amizade e camaradagem com o Pedro e o António Alves, que muito têm contribuído para a concretização deste protejo.
Ainda estou em falta com muita pessoas e instituições que tiveram as mais diversas participações na criação do arquivo que é a base deste blogue.
Fica a promessa de rapidamente corrigir esta falha.
18 de Outubro de 2014

Há um mês que começamos a publicar esta série de documentos.
A ideia inicial tinha previsto um outro formato, mas tal não foi possível concretizar. Em função disto foi necessário avançar, sem que todas as condições estivessem reunidas, como aliás ainda hoje não estão.
Não é possível, de momento e tecnicamente, fazer a reprodução em texto de todos os documentos publicados, nomeadamente os muitos jornais e revistas que surgiram depois do 25 de Abril de 1974, ou novos documentos, ou com novos formatos e edições.
Por esse motivo iremos apenas disponibilizar, ou a 1ª página, ou esta e a última, assim como algumas fotografias dessas edições e, em alguns casos apenas um artigo, como por exemplo os editoriais.
Logo que seja possível ultrapassar as limitações existentes de momento, faremos a introdução integral dos conteúdos.
Os documentos que estamos a disponibilizar já tiveram uma vida muito razoável e nem sempre muito fácil. Alguns deles são verdadeiros sobreviventes.
Em primeiro lugar, há 40 ou 45 anos conforme o caso, foi preciso pensar o que escrever e como o publicar.
A seguir foi necessário distribui-los.
Depois foi necessário que, em alguns casos, durante dezenas de anos alguém os preservasse, às vezes nas condições mais impensáveis e que, a seguir, tivesse sido possível resgatá-los dos sótãos ou das caves da memória.
Estes sótãos e caves foram, em muitos casos, os grandes aliados. Um dos grandes inimigos foram as mudanças de casa.
Houve também aliados intangíveis. Muitas pessoas preservaram e preservam documentos. Havia uma certa noção de guardar a memória para o futuro, de algo que se pensava ser importante e de que se era testemunha.
Estes documentos têm múltiplas e diversificadas origens que, a seu tempo, revelaremos.
Foi igualmente necessário organizar os documentos de forma cronológica e por organização/colectivo ou publicação.
Em seguida, foi necessário digitalizar toda a documentação assim como tratá-la, até chegar ao ponto dos seus conteúdos poderem ser apresentados como texto editável.
Durante este caminho, foi necessário tentar ultrapassar diversas dificuldades, sendo que umas foram conseguidas e outras nem por isso.
Muitos dos originais anteriores ao 25 de Abril foram produzidos em condições técnicas, que hoje, praticamente ninguém com menos de 30 anos faz a mais pequena ideia de qual foi o processo.
Acresce que a sua preservação em condições de clandestinidade tinha, em muitos casos, custos acrescidos.
Muitos documentos estão também incompletos como é o caso, por exemplo, de alguns documentos enviados para a censura como o “O Tempo e o Modo”, que já estamos a publicar.
Outro factor a ter em conta é que, mesmo sem a aplicação do acordo ortográfico, o tipo de linguagem que era então utilizada, bem como a maneira como era escrita era muito variada e parecerá hoje para algumas pessoas, muito estranha.
Acresce que muitos documentos têm erros nos próprios originais.
E mesmo situações que não são erros, como por exemplo, os hífens que eram colocados para mudar de linha de escrever, ou para mudar de coluna quando era impresso por “tipos”, aparecem hoje como erros nos corretores automáticos de escrita.
Fazer a sua transição hoje para texto editável, é pois um trabalho algo complexo e demorado.
Um exemplo de como os textos por vezes aparecem é o documento publicado no dia 12 de Maio do “PRP-BR” em que, embora o documento tenha já sido trabalhado, foi deixada uma página – a segunda – em que se dá uma ideia de como por vezes aparece o texto a editar.
Outros documentos vão continuar a apresentar deficiências deste e de outro tipo.
Por vezes iremos tentar ultrapassar essas dificuldades, com a sua publicação em ficheiros de formato PDF.
Ao mesmo tempo, existe uma grande quantidade de documentos que, mesmo depois de todo o tratamento a que foram já sujeitos, precisam ainda de ser trabalhados por seres humanos que os leiam, interpretem e corrijam.
Propomos a todos os interessados em participar neste processo que entrem em contacto com o editor.
Podemos enviar documentos na versão PDF e na versão de texto já com pré-tratamento, para quem queira apoiar o processo de correcção final do texto.
Além disso, existirão documentos que não conseguiremos datar correctamente pelo que, a quem nos ajudar a datar correctamente esses documentos, muito agradecemos.
Outra forma de apoiar este projecto, poderá ser pela partilha de documentos que não existam neste arquivo (em suporte de papel ou digital).
Agradecemos igualmente os contributos que neste curto espaço de tempo já nos fizeram chegar.
Apelamos aos interessados para entrarem em contacto com o editor por e-mail, para podermos ver a melhor maneira de os incluir neste processo de contar esta História, que não é de ninguém. É NOSSA.
Por fim uma palavra aos Partidos, nomeadamente ao PS, PPD e PCP. As colecções dos seus jornais depois do 25 de Abril são das mais incompletas que temos disponíveis. Sempre que tivermos exemplares, iremos publicá-los.
Da nossa parte, não existe nenhuma espécie de censura em relação a estas ou outras publicações, pelo que teremos todo o gosto em acrescentar a esta História os exemplares que nos fizerem chegar, com respectivo agradecimento e referência à colaboração.
Em relação às instituições, organismos ou pessoas que se têm dedicado a preservar e a divulgar este período da nossa História, a nossa postura é a de ser mais um contributo, tendo para isso toda a disponibilidade para estabelecer possíveis parcerias.
18 de Maio de 2014

Publicamos hoje um grupo de textos originais enviados pela redacção da revista “O Tempo e o Modo” à censura sobre a morte de António Sérgio.


29 de Abril de 2014

Iniciamos hoje a publicação de uma segunda série de documentos que nos vão conduzir no período que vai do 25 de Abril de 1974 até aos finais de 1979.
O primeiro documento desta segunda série é uma prenda para os 40 anos da Revolução a que chamei "A imagem que inspirou a Vieira da Silva".
Aqui vai uma prenda para o 25 de Abril.
Ainda nem tudo foi contado.
Aonde se inspirou a Vieira da Silva?
A Poesia está na rua.

Descrição das obras

Obra 1
Nesta obra podemos observar, ao centro, uma multidão de pessoas, representada pelos traços a negro e pelos pontos encarnados (simbolizando os cravos vermelhos ou rostos de gente?), estando o grupo na frente da multidão, a segurar uma faixa. Dos lados, estão representados edifícios podendo-se distinguir com mais clareza, do lado direito, diversas varandas, onde se pode reconhecer, na varanda do segundo andar, pelo menos uma pessoa com um cravo vermelho? Vieira da Silva procura representar uma manifestação livre que comemora a revolução de Abril, denominando este acontecimento como A Poesia está na rua. Esta multidão parece estar a descer uma rua. Na parte inferior da obra, foi pintada uma faixa vermelha com a data da revolução.

Obra 2
Nesta obra, o enquadramento da multidão que celebra o 25 de Abril de 1974 está igualmente entre dois edifícios. No centro, está representada a liberdade do povo português na multidão que parece descer a rua e que empunha os cravos vermelhos da revolução. Do lado esquerdo da peça, no edifício (representado num conjunto de quatro elementos: do rés-do-chão ao 3º andar) vemos pessoas com cravos que observam e celebram com a multidão, também com cravos vermelhos. Do lado esquerdo, percebem-se com clareza três edifícios, e uma faixa azul com a data da revolução. Na parte inferior da obra, a autora pintou o nome do tema: A Poesia está na rua.
Estas duas obras têm os seguintes elementos em comum: o 25 de Abril de 1974, uma multidão que desce uma rua ladeada de edifícios e que celebra a liberdade que a revolução trouxe, segurando cravos vermelhos.

Jornal
O Jornal “Sempre Fixe” é também um dos ícones da imprensa portuguesa.
A página que apresentamos é um suplemento “ Magazine” da edição de 4 de Maio de 1974.
Estamos convencidos de que esta página é um elemento fundamental na inspiração de Vieira da Silva para produzir dois dos maiores ícones do 25 de Abril de 1974.
Vamos ver o que as pessoas pensam.
Na primeira página do Magazine, na fotografia do lado esquerdo vemos uma multidão celebrando o 1º de Maio de 1974, que segue uma rua ladeada por edifícios, onde estão pessoas nas janelas e varandas, observando e celebrando com a multidão. No conjunto de quatro fotografias do lado direito, dispostas como janelas, vemos um militar com um cravo na boca, uma mãe com um filho, uma multidão e um pequeno grupo de pessoas na entrada de um edifício.

Possível inspiração
A composição das obras de Viera da Silva e a primeira página do Magazine apresentam vários elementos visuais comuns, tais como a multidão que se manifesta numa rua ladeada de edifícios, onde os moradores também celebram com a multidão. Na obra 2, o conjunto representado do lado esquerdo (representado num conjunto de quatro elementos) parece lembrar o alinhamento da composição das quatro fotografias que aparece do lado direito da primeira página do Magazine.

Sequência das imagens em anexo:
1 – Cartaz Vieira da Silva – 51,5x85.
2 – Cartaz Vieira da Silva – 62x82,5.
3 – Capa do “Magazine” do jornal “Sempre Fixe” de 4 de Maio de 1974 – 49x70.
4 – Fotografia principal do jornal.
5 – Fotografia principal do jornal com o acréscimo da barra  do 1º cartaz, onde se lê “25 de Abril de 1974”.
6 – Parte da capa do jornal.
7 – Parte da capa do jornal com as quatro fotografias do lado em que estão no 2º cartaz.
8 – Imagens a que foram acrescentadas as barras com as palavras 25 de Abril de 1974.

Esperamos deste modo dar o nosso modesto contributo para as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril.
Viva o Liberdade!
Que cada um forme a sua Opinião!
25 de Abril de 2014

Passam este ano 45 anos sobre o início da crise académica de 1969, a 17 de Abril, e 40 anos do 25 de Abril de 1974.
A crise de 1969 é o início de uma convulsão estudantil que só terminará já muito depois do 25 de Abril, mas que tem, até 1974, muitos momentos marcantes, dos quais não é possível deixar de referir o assassinato pela PIDE de José António Ribeiro dos Santos ou a Crise dos Coros no Porto em 1973 ou ainda, as investidas da Polícia de Choque na Universidade de Lisboa.
No período de 1969 à revolução, muito mais acontece na sociedade portuguesa, como os dois congressos da oposição democrática, aos actos eleitorais de 1969 e 1973, passando pelo aparecimento da quase totalidade das organização políticas de oposição não alinhadas com os sectores tradicionais - com a excepção da CMLP e da LUAR que são anteriores - como por exemplo, as organizações de carácter maoísta ou trotskista ou organizações de “acção directa”, como o as Brigadas Revolucionárias.
Depois do 25 de Abril de 1974, foi o que foi, e o que aqui ajudaremos a contar recordando episódios, hoje mais ao menos conhecidos, mas que também fizeram parte da revolução.
Sobre o ponto de vista da recolha de documentos, dos períodos que vão de 1969 à revolução e no período pós 25 de Abril, há problemas de carácter diferente mas que, por paradoxal que pareça, acabam por ter consequências similares.
O acesso a documentos de antes do 25 de Abril é dificultado pelas edições muito reduzidas, produzidas a maior parte das vezes por meios hoje rudimentares e com redes de distribuição muito limitadas e que eram perigosas de guardar.
No período pós 25 de Abril há, pelo contrário, uma explosão de organizações e de documentos que torna impossível, a quem quer que seja, ter um acervo completo do que foi por esses dias produzido.
O projecto que hoje iniciamos vai-se debruçar sobre estes dois períodos. De 17 de Abril de 1969 ao 25 de Abril de 1974, e deste até às eleições autárquicas de 12 de Dezembro de 1979 passam dois períodos de, aproximadamente, cinco anos. iremos disponibilizar on-line mais de uma dezena de milhar de documentos políticos. Serão publicados com a seguinte cronologia: de 17 de Abril de 1969 até ao 25 de Abril, e deste até ao fim de 1979. Serão publicados os documentos que saíram nesses mesmos dias de há, respectivamente, 45 e 40 anos.
Os documentos que serão disponibilizados foram todos digitalizados a partir de originais. Muitos serão já conhecidos e outros nunca foram publicados. Foram todos tratados de forma a permitir que a sua consulta seja o mais fácil possível. Os conteúdos são, sempre que possível, reproduzidos em texto.
Este projecto deve muito a muita gente, que referiremos em devida altura, não tendo sido financiado, nem apoiado por qualquer tipo de organização.
Existem muitas lacunas na documentação que será disponibilizada. Muitas das colecções estão incompletas e outras, pura e simplesmente, não estão representadas. De entre as falhas, salientamos, pela sua importância, o “Avante” do PCP, o “Portugal Socialista” do PS e o “Povo Livre” do PSD, assim como “A Batalha” da corrente Anarquista.
Relativamente a algumas das edições em falta, os partidos têm o dever de as disponibilizar, e a outras, esperamos que quem seguir este blogue possa, de alguma maneira, ajudar a suprir essas omissões.
Também existirão certamente erros de data ou classificação que tentaremos, ao longo do tempo e conforme nos for chamado à atenção, corrigir.
Este projecto não tem por objectivo comemorar os 40 anos do 25 de Abril de uma forma efémera que se desvanece no próximo 1º de Maio. Nos próximos cinco anos, vamos fornecer documentação para pessoas interessadas nestas matérias, e que nos poderão também ajudar a compreender melhor este passado próximo.

18 de Abril de 2014
José Gualberto de Almeida Freitas

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